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Incidente Crítico e suas implicações

Segundo dados do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho, da OIT e do Ministério Público do Trabalho, o país registrou 2,5 mil óbitos e 571,8 mil comunicações de acidentes de trabalho (CATs) em 2021. Os números representam um acréscimo de 30% em relação ao ano anterior ¹.  Os dados apresentados trazem um alerta as empresas, que precisam saber o significado da importância de terem projetos que possam lidar com situações críticas no ambiente profissional. A definição do Incidente Crítico poderia ser o primeiro passo em busca de ações mais efetivas. O incidente crítico é um evento inesperado e traumático que ameaça de forma grave, a vida e a segurança dos colaboradores ou clientes de uma empresa. São tratados como incidentes críticos os acidentes graves, assaltos violentos, sequestros sofridos por colaboradores dentro do ambiente profissional, casos de morte, tentativas de suicídio ou suicídio, catástrofes ou eventos naturais, entre outros.  Em situações de Incidente Crítico é importante que a empresa, seja acolhida e que seja realizada uma avaliação emocional e/ou social cuidadosa de todo o cenário para que se possa traçar estratégias efetivas, sempre com o olhar cuidadoso, empático e humanizado, buscando minimizar os impactos de um transtorno de estresse pós-traumático.

O transtorno de estresse pós-traumático, surge como uma resposta tardia ou prolongada à uma situação estressante, de curta ou longa duração, de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, a qual causa angústia invasiva em quase todas as pessoas ². O objetivo deste suporte é aplicar a abordagem psicológica e educacional para apoio às pessoas expostas ao trauma, no processo de superá-lo. Promovendo a oportunidade para os envolvidos no incidente crítico verbalizar e nomear seus sentimentos e reações com o objetivo de reduzir a tensão ou o estresse.

REFERÊNCIAS

  1. https://www.trt4.jus.br.
  • Classificação Internacional da Doenças. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID F-10. Descrição clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artmed; 1998.
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Cenário da Saúde Mental no Brasil e Ferramentas de Enfrentamento

O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo mais estressado e o quinto mais depressivo, segundo os dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) ¹. No mundo estima-se que quase 1 bilhão de pessoas sofram de algum tipo de transtorno mental. Frente a essa realidade alarmante sobre a saúde mental no mundo, a OMS apresentou o World Mental Health Report, um trabalho de revisão sobre a necessidade de mudança da visão sobre saúde emocional com objetivo de transformar a saúde mental para todos. As condições de saúde mental são muito comuns em todos os países do mundo. A maioria das sociedades e a maioria dos sistemas de saúde e sociais negligenciam a saúde e não fornecem os cuidados e apoio que as pessoas precisam e merecem. O resultado é que milhões de pessoas em todo o mundo sofrem em silêncio, vivenciam violações de direitos humanos ou são afetadas negativamente em suas vidas diárias ². As propostas apresentadas são diretrizes estruturadas para auxiliar os governos, profissionais de saúde entre outros a enfrentarem com responsabilidade e respeito os problemas relacionados a saúde mental. Sendo o Brasil o país mais ansioso e o segundo mais estressado do mundo, fica claro que a sociedade precisa entender o que está acontecendo e como lidar com essa situação de forma mais assertiva.

Dra. Lipp já chamava atenção para o diagnóstico e as ferramentas importantes para o enfrentamento do estresse há mais de 20 anos atrás, como se estivesse prevendo o futuro. Descreve em seu livro que, nos dias de hoje, em que a tensão e o estresse se tornam companheiros constantes da jornada diária, existe a necessidade de aprender técnicas e modos de relaxar o corpo e a mente, a fim de reduzir o estado de excitabilidade que o estresse gera no organismo ³.

Apesar do alerta ter surgido a tantos anos, verifica-se ainda uma dificuldade de aceitação e conscientização da busca por ajuda, talvez por se falar de algo tão abstrato como a psique humana. Marco Aurelio defini a psique – ou alma, ou espírito ou, para alguns, a mente – seria a parte invisível e intocável, mas que sabemos que existe e engloba tudo aquilo que sentimos, pensamos, desejamos, sonhamos etc.4. Esse algo invisível e intocável remete a percepção de algo intangível que está longe do alcance e do tratamento adequado. Transformar essa visão em algo que se possa alcançar e tratar é o desafio do momento atual. Onde o desconforto, a ansiedade, a tensão, o estresse, a preocupação, todas essas formas de medo são causadas pelo excesso de futuro e pouca presença 5. Vive-se o passado ou o futuro, e o hoje não faz mais parte da vida das pessoas. O momento presente, em muitos casos esquecido, pois, verifica-se uma urgência em controlar o que está por vir e com esses pensamentos e controles ativados, a vida fica mais ansiosa. Por isso, atualmente existem tantas técnicas e ferramentas para ensinar as pessoas a estarem no momento presente e tomarem as rédeas da vida novamente. Toller coloca a importância do poder do agora em seu livro, que remete a voltar a mente ao presente com consciência. Ao ficarmos mais conscientes do presente, podemos ter insights sobre o porquê de determinados condicionamentos. O que é essencial é a nossa presença consciente. Ela dissolve o passado. Ela é o agente transformador 5.

Precisa-se aprender a acalmar a mente para que ela possa apresentar todo o seu potencial e se desenvolver de uma forma satisfatória. Atualmente existem tantas ferramentas que permitem chegar a essa calmaria na mente e a busca de uma conexão interior, basta que se possa experimentar e acreditar. Usar as ferramentas da Dra. Lipp de como gerenciar seu estresse, ou uma técnica de mindfulness ou treinar sua mente para que ela possa estar no agora, poderá ser um diferencial para se ter uma qualidade de vida satisfatória. As pessoas precisam aprender que para acalmar sua mente, elas precisam de muito pouco, elas precisam tomar consciência de suas emoções e saber como gerenciá-las. Devendo-se fazer um convite para a reflexão e conexão com suas emoções.

REFERÊNCIAS

  1. Transtornos mentais, Organização Pan-Americana de Saúde – Organização Mundial de Saúde. Washington, EUA, 2019.
  • World mental health report: transforming mental health for all. Geneva: World Health Organization; 2022.
  • Lipp, Novaes Marilda. Relaxamento para todos; Controle o seu stress, 4ª edição – Campinas, SP:  Editora Papirus, 2001.
  • Silva, Dias Aurélio Marco. Quem ama Não Adoece; O papel das emoções na prevenção e cura das doenças, 4ª edição. São Paulo, SP: Editora Best Seller, 1994.

Toller Eckhart. O Poder do Agora; Um guia para a iluminação espiritual, Rio de Janeiro, RJ: Sextante, 2002.

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Reflexão da Sociedade e Seus Cuidados

Tendo como objetivo principal a reflexão sobre como está a sociedade quando se fala em qualidade de vida e em saúde mental, será importante pensar em um valioso filósofo que está impulsionando a pensar na sociedade atual.

Deve-se desenvolver o hábito de refletir através de alguns filósofos, pois quem sabe desta forma consiga-se entender e construir uma sociedade que de fato seja respeitosa e cuidadosa na sua essência. Pois, percebe-se que ainda se vive com falta de propósito e sem um rumo, buscando os extremos e não respeitando as pessoas como seres diversas habilidades e em suas opiniões.

Vê-se esse desrespeito todos os dias, na área da saúde, da educação, na política, nas empresas e nos hospitais.

Byung Han, um dos filosofo que é importante conhecer, faz referência a depressão como a expressão patológica do fracasso do homem pós-moderno em ser ele mesmo. Para Han somos classificados como a sociedade do cansaço onde as enfermidades psíquicas como a depressão e burnout são a expressão de uma profunda crise de liberdade. São um sinal patológico de que a liberdade está se transformando em coação. ¹

É uma sociedade das doenças emocionais, que lotam os prontos socorros em uma busca incessante de alívio rápido da dor existencial, da dor emocional e da dor moral. E esse alívio nem sempre chega, pois tantos médicos como clientes querem a rapidez na resolução e não entendem a importância de uma boa anamnese. 

Com o objeto de uma quebra de paradigma a saúde integrativa tem ganhado seus espaços com a intenção de apresentar estratégias para um novo olhar, que busca colocar o ser humano e suas facetas no centro de tudo. Não se é depressão, um coração, um fígado, um estresse, as pessoas são constituídas por um sistema, e como uma boa engrenagem, ele precisa estar harmônico em todas as áreas para que se possa buscar a cura ou a qualidade de vida necessária para esse ser humano. Esse olhar de cuidado amplo, não somente com o sujeito mais também com a sociedade e com família, dando a pessoa a tranquilidade que ele precisa para entender o que é, melhor para ele naquele momento.

Para que a medicina integrativa alcance um patamar desejado, ou que mais indivíduos e seus familiares sejam beneficiados deste olhar cuidadoso, que levanta a bandeira do autocuidado, será necessário pensar em um novo modelo educacional, onde palavras como cuidado, autocuidado, engajamento, morte, luto, finanças, depressão, ideação suicida… sejam faladas sem tabu, desde cedo nos ambientes escolares. O modelo do aluno como centro do processo é importante para que os jovens possam ser ensinados e florescerem.

Marcia Lobo explica que as doenças não podem mais ser vistas como algo totalmente fora de controle, como uma questão de destino, sorte ou azar. Você é responsável tanto pelo desenvolvimento de doenças crônicas quanto pelo privilégio de ficar livre delas ². Mas para isso é necessária uma conscientização, um diálogo aberto e cuidado, um ensinamento de que poderá fazer a diferença nas vidas se o sistema de saúde estiver preparado para uma saúde preventiva com um olhar holístico para o ser humano, englobando todos os aspectos da vida.

Busca-se uma política de saúde que traga a consciência o cuidado em todas as esferas da vida. Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização… Mais alegre…Melhor porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa. ³

Essa busca acontece agora, com profissionais olhando para esse lugar de seres melhores e mais cuidados uns com os outros. Essa busca começou aqui no estudo das Bases da Medicina Integrativa.

REFERÊNCIAS

  1. Han, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço; tradução de Ênio Paulo Giachini, 2ª edição ampliada – Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2019.
  2. Vidoto, Marcia Lobo. Saúde: Nua e Crua: Alimentos na Prevenção e Cura de Doenças, Peso Ideal e Qualidade de Vida. 3ª edição. São Paulo: Bio Editora, 2017
  3. Ribeiro, Darcy. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil, 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1995